Paulo Al-Assal

As Faixas Brancas da Vida!

Como muitos meninos na infância, eu tinha muita energia e era um pouco ansioso demais.

Meus pais resolveram me colocar em uma arte marcial, mas não qualquer uma…eles buscavam uma que tivesse princípios e valores claros em sua metodologia. Escolheram o Judô e na época, na academia do Mestre Yamasaki em São Paulo. Fiz 4 anos, cheguei à faixa amarela e me marcou tanto que fiquei apaixonado pelas artes marciais e suas filosofias. 

Quando fui fazer faculdade nos EUA, 12 anos depois, resolvi voltar às artes marciais e fui aprender Kenpo Havaiano, uma mistura de Karatê, Judô e Kung Fu. Cheguei à faixa laranja, que seria um terceiro nível de graduação no Kenpo. 

Como jogava basquete nos EUA (com bolsa universitária), tive que abrir mão do Kenpo para me dedicar aos treinos. Por isso e depois outros fatores da vida, infelizmente acabei me afastando das artes marciais, porém as artes marciais nunca saíram de mim. 

Sou empreendedor há 21 anos e como fundador e CEO das empresas que criei, sempre tive que tomar decisões finais, gerir times, cultura, liderar e ser o “faixa preta” da minha empresa.

A liderança tem várias dicotomias…ser um líder humano mas ao mesmo tempo cobrar resultados e disciplina, estabelecer relacionamentos próximos mas ao mesmo tempo saber o que é melhor pro time, entre várias outras dualidades que já falei aqui em outro artigo.

24 anos depois do Kenpo, resolvi voltar à artes marciais, dessa vez porém, uma com uma filosofia diferente, que trabalha autoconhecimento, maturidade emocional, princípios como respeito, disciplina, compaixão, gentileza, colaboração e hierarquia. O Jiu Jitsu O-DGI (O despertar do guerreiro interno), criado pelo Sensei e meu Mestre Fernando Belatto, faixa preta quarto Dan. 

Voltei à faixa branca! E tem sido uma experiência transformadora. Uma lição de humildade e de respeito à hierarquia. Uma reflexão que somos eternos aprendizes e que ora somos “faixas pretas” e ora somos faixas brancas e temos que entender e saber nosso lugar nesses diferentes ambientes. 

No dojo do O-DGI temos regras muito claras e um código de ética e respeito muito fortes. Já cometi várias gafes, tomei “broncas” do Sensei e me senti muito envergonhado, mas ao mesmo tempo foram lições transformadoras e sou muito grato por elas. Não fiz por mal, mas pela minha inocência, não respeitei a hierarquia do dojo, dos mais graduados, dos mais experientes. 

No O-DGI antes e depois dos treinos de Jiu Jitsu, temos um ritual onde concentramos, ouvimos uma palavra de sabedoria do nosso Sensei e agradecemos e honramos nossos guerreiros.

Nesse momento somos organizados pela graduação de faixa e eu sou o último da coluna por ser o mais novo faixa branca do dojo.

Quem me conhece sabe que em tudo que faço eu tento me diferenciar e me destacar. Estar ali como o menos graduado e teoricamente ser o “pior” do grupo é uma lição de humildade que não se aprende em nenhum outro lugar. 

Faixa branca, pra mim é como receber um papel em branco para recomeçar a escrever uma história. Simboliza pureza, aprendizado, humildade, respeito, vontade, vulnerabilidade, garra e coragem. 

Recentemente fiz 50 anos! E gostei tanto de voltar a ser faixa branca que resolvi ser “faixa branca” em violão e gaita também. E não vou parar por aí! Voltar a aprender algo do zero aos 50 anos e a ser faixa branca tem sido uma experiência incrível, renovadora, pura, verdadeira.

Isso me inspirou tanto que criei uma nova palestra: “As Faixas Brancas da Vida!”. Semana passada dei essa palestra pela primeira vez em uma empresa que admiro demais. Falei sobre as faixas brancas da vida e tive a coragem (e cara de pau) de tocar violão e gaita na frente de todos! A ideia foi mostrar nossas vulnerabilidades e que somos longe de sermos perfeitos! E quem sabe inspirá-los um pouco para começarem algo novo. E não é que foi um super sucesso?

Nunca é tarde para começar alguma coisa nova. Mesmo as que nos dão medo. São essas que nos fazem evoluir! E essa evolução deve ser contínua…assim como a faixa preta que depois de um tempo, se desbota e fica branca novamente!

Que tal ser “faixa branca” em alguma coisa?